terça-feira, 11 de agosto de 2009


Me entorpecia de alegria saber que ele viria aquele fim-de-semana.O telefone quase não encontrava o gancho depois de ter que ouvir tantas frases de amor e, como eu, ficar suado por meio da mão que o segurava próximo ao ouvido.Assim como as cartas, os bilhetes na porta da geladeira, o telefone era mais uma testemunha do meu primeiro amor.

Coloquei as mãos no alto e fiz força até ouvir todos os ossos estralarem nas costas.Olhei no espelho e na hora, meu poeta sussurou: "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental!".Poeta, meu poeta camarada, quem dera realmente todos fossem iguais a você.E não hipócritas com seu discurso da "imposição da beleza".E tambem, quem disse que beleza é uma só, não é mesmo?São diversas!Mas daí a dizer que o feio é atraente aos olhos, exorbita!

Ele não, ele sim era fundamental.Garoava na noite em que o conheci.As ruas do centro da capital, estranhamente desertas, antigas, cinzas e concretuais, fincadas entre a feia e clássica definição de uma cidade como São Paulo.A unica coisa que podia-se sentir, praticamente tocar, era o medo.Pairando no ar, pesado, ofegante.Não de putas e vagabundos!Não!Esses eram tão inocentes e faziam íntima parte daquele cenário, mais até do que qualquer prédio velho daqueles! O medo era do carro que parava parecendo pedir informações e partia sem deixar informação nenhuma.

Eu andava depressa, o casaco fechado, o cachecol e a boina caída por cima da sombrancelha esquerda, a mochila batia ritmada nas costas acompanhando o embalo dos passos refugiando Chico, Caetano, Gil, Lenin, Kafka, disfarçados por pertencerem ao novo Index.Ao chegar, o cheiro de conhaque, cigarros, boinas e barbas, se misturavam com a voz firme, argumentadora, alta e inspiradora como todo discurso deve ser, mas sempre perder a ternura jamais.E foi ali, em meio a companheiros e camaradas que eu me apaixonei...


-Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás - Che Guevara

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