sábado, 13 de março de 2010


A coisa já estava difícil demais para imaginar o segundo que se seguiria quando alguém muito próximo partisse.
A vida estava difícil, mundo novo, escola nova, desafio novo.
O "viver" em si não é fácil, mas se torna valiosíssimo quando o sentimos escapar de nossas mãos, mesmo se essa sensação é passada através de outro indivíduo.
Por mais que estivesse em estilhaços por sua partida, mantive-me simples, séria, forte, inabalável.Combati o bom combate.Disse a minha mãe que da vida jamais poderíamos esperar algo de mais.A diferença é que esse meu discurso de despedida vinha com um tom de conformidade.De que nada há que se fazer: somente lutar contra a dor.Sem questionamentos.Sem margem para questionamentos bestas.
E para chegar a isso, tive que ver minha mãe, que seria capaz de derrubar um touro para que no meu irmão nenhum arranhão fosse tentado, sofrer a dor de enterrar seu terceiro filho.Inconformada com o que a vida dá, traz e nos leva.
Nesse dia eu morri, morri por alguns bons dias.Minha conformidade me matou.Os pensamentos antes tidos como bestas, vieram.Quantos litros eu derramaria para poder ter mais uma conversa com ele? Nem se fôssemos brigas como sempre e depois entrar em acordo apertando as mãos? Mão essa que se mantem tão longe agora.E que me deixou com um nó ainda maior na garganta, por que não houve tempo para pedir desculpas, para admitir que eu realmente gostava dele.
Nos desencontramos, meu irmão.E não sabemos se iremos nos encontrar novamente.Chorando ou não, é preciso levar em conta as probabilidades.Mas a saudade ainda hoje me assusta, me corrói por minutos, quando abro esse mesmo leque de possibilidades e encontro lacunas preenchidas por esperanças, dúvidas e incertezas.
E hoje, após quase um ano de sua partida, saio da passividade do conformismo e venho dizer que nessa vida severina somos todos severinos.E que cada momento vivido foi uma alegria, mesmo que essas lembranças só venham a tona quando do ópio tomamos gosto, tudo teve um destino certo, uma hora certa, uma razão e uma paixão.Pois ser irmão não é apenas existir, e sim, transbordar em compartilhar, lutar junto, unir-se e principalmente em sentir falta um do outro e continuar amando-o sempre.O quão longe estiver e o quão longo for o tempo de voltar a vê-lo.

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